domingo, 28 de fevereiro de 2010

O fruto do Espírito Santo é domínio próprio (comentário)





A última das virtudes mencionadas por Paulo como parte do fruto do Espírito é enkrateia, que tem sido traduzida como domínio próprio ou temperança. Ela ocorre apenas aqui, em Gl 5:23 e em At 24:25 e 2Pe 1:6, e deriva da raiz krat, que significa “poder” ou “controle”. Também há o adjetivo enkrates – “continente” (que tem continência: a abstenção de prazeres) ou “que tenha domínio de si” (Tt 1:8) – e a forma verbal enkrateuomai, “abster-se de algo”, vertida como “se dominem” (1Co 7:9) e “se domina” (1Co 9:25).1

DOMÍNIO PRÓPRIO É PODER

Domínio próprio “descreve a força interior pela qual um homem se controla, recusando-se a ser levado ao léu pelos desejos ou impulsos diversos”;2 refere-se à possibilidade de moldar a vida, não segundo os maus desejos de nossa natureza pecaminosa, mas conforme os desejos de Deus, que sempre são puros, benéficos e bons.3 O domínio próprio, presente nesta listagem, é produzido pelo Espírito Santo na vida do crente, capacitando-o a refrear-se de vícios e excessos4 e parece estar contrastando com as diversas obras da carne que foram anteriormente mencionadas (Gl 5:19-21) e que, claramente, demonstram a auto-indulgência – o deixar-se levar pelas paixões e desejos – que é seu antônimo.5 

Ter domínio próprio significa “ter poder sobre si mesmo”.6 Sim, é quando nos rendemos para ser totalmente dominados pelo Espírito de Deus que somos mais nós mesmos do que nunca.7 Em vez de pensarmos no cristão apenas como alguém que não pode (e não deve), fazer isso e aquilo, deveríamos saber que somente o cristão é que pode fazer algumas coisas: somente ele é que tem poder para ser obediente à vontade de Deus, somente ele é que pode amar de verdade,  somente ele é que pode ter a vitória sobre os desejos impuros do coração e ainda assim viver em paz e contentamento.

O cristão tem poder para não viver pecando. “Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus.” I João 3:9. O filho de Deus é simplesmente incapaz de viver uma vida pecaminosa. Isto não significa que ele nunca mais cometerá um ato de pecado, mas que ele não vive mais constantemente, habitualmente, uma vida de pecado. Quando creu em Cristo, houve uma “transformação interior, profunda, radical;” recebeu uma nova natureza, que “exerce uma forte pressão interna em direção á santidade”.8 

“Deus armou os seus filhos para a guerra contra Satanás, implantando a sua própria natureza neles... Podemos dizer, portanto, em terminologia moderna, que os genes de Deus permanecem em Seus filhos, e que pecar é contrário à natureza deles”.9 Ilustremos esta verdade comparando dois animais: o porco e o gato. O porco tem prazer em chafurdar na lama. Faz parte de sua natureza. Mas um gato jamais fará isso. É um dos animais mais limpos que conhecemos: está sempre se lambendo, se limpando. Um gato nunca terá prazer em se revolver na lama simplesmente porque não faz parte de sua natureza. Assim, um filho de Deus não terá satisfação em viver uma vida pecaminosa.

O cristão tem poder para vencer o mundo.  “Não ameis o mundo nem as cousas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do pai, mas procede do mundo. Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente.” I João 2:15-17. Na Bíblia a expressão “mundo”, dependendo do contexto, pode significar “universo”, “Terra”, “humanidade”, etc. Mas neste texto se refere ao sistema pecaminoso e mau, inaugurado e chefiado por Satanás, com tentações e perversões de toda sorte, onde é incentivada a vida egoísta, carnal e ímpia e que exerce pressões psicológicas, intelectuais e até físicas para nos alienar de Deus e Seus caminhos. É um estilo de vida que se opõe à vontade de Deus e, nem mesmo O leva em conta. Aquele que o adota está preocupado apenas consigo mesmo, com seu prazer e não se importa se suas decisões terão a aprovação do céu ou não.

O mundo deve ser encarado por nós, não como amigo, mas como um inimigo que precisa ser combatido e vencido. Contudo, isso só é possível àquele que nasce de Deus. “Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; ora, os seus mandamentos não são penosos, porque todo que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé.” I João 5:4. O filho de Deus é um vitorioso. As atrações e propostas do mundo perderam o seu fascínio sobre ele. Ele sabe que suas cores, seus sons, seus encantos e prazeres são ilusórios e passageiros. Armado de sua fé ele segue avante, obediente aos mandamentos de Deus, a quem devota o seu amor.10

DOMÍNIO PRÓPRIO E FORÇA DE VONTADE



Domínio próprio também pode ser entendido como força de vontade11. “Vontade” é uma expressão que pode ter diversos significados, sendo que os mais usados parecem ser: 
(1) Desejo, anseio, aspiração. Ex.: “Estou com vontade de comer um pedaço de bolo”; e 
(2) Capacidade de escolha, de decisão. Ex.: “O apóstolo Paulo tinha uma vontade de ferro” (o que indica que possuía firmeza e energia nas decisões). Aqui empregamos o termo “vontade” com o sentido de capacidade de decisão e não comodesejo. “A vontade não é gosto nem a inclinação, mas o poder que decide”.12 Assim, alguém pode passar diante de uma confeitaria e, vendo os doces expostos na vitrina, ter o desejo de comê-los e, contudo, embora tenha tempo e dinheiro, por alguma razão sua vontade diz “não”, e ele segue seu caminho, sem saboreá-los.


Uma pessoa pode ter uma infinidade de desejos, mas a vontade é apenas uma. A vontade pode combater os desejos ou aliar-se a eles. Ela está acima das emoções e da razão, e é responsável pelas decisões e pelos caminhos do indivíduo. “A vontade é o poder que governa a natureza do homem, pondo todas as outras faculdades sob sua direção.”13 As faculdades mentais e as paixões devem ser controladas pela vontade.14 A razão pode analisar com clareza tudo que está envolvido e apontar o rumo correto, mas é a vontade que detém o comando. Pode concordar com a razão e decidir em harmonia com ela; pode render-se á emoção; pode ir contra uma e outra. É como uma máquina interna que toma decisões. A vontade é livre para escolher e se constitui na grande capacidade que torna o homem senhor de si mesmo, de seus atos, e, por isso mesmo, ele é simultaneamente livre e responsável.15 A vontade é a própria essência da personalidade. É a fonte de todas as ações.16


Uma pessoa pode ter uma vontade saudável ou uma vontade enferma. Os de vontade enferma podem ser classificados em três grupos: 
(1) Os impulsivos. São os que não gastam tempo para pensar. São incapazes de resistir a certos impulsos17 ou instintos.18   São impetuosos, rápidos demais em decidir e agir. 
(2) Os indecisos. Ao contrário dos anteriores, estes pensam demais. Em sua mente, os prós e os contras assumem grandes proporções e eles não sabem o que decidir. A razão realiza bem o seu papel, mas a vontade não assume o comando.19 
(3) Os inconstantes. São os que raciocinam e decidem corretamente, mas não são capazes de executar o que decidiram. Deixam-se dominar pelos acontecimentos, em vez de dominá-los. Têm medo de agir.20


Na Bíblia encontramos exemplos de indivíduos que, pelo menos em certos momentos da vida, manifestaram uma vontade doentia. Assim, como exemplos de impulsivos, citamos estes:


Ananias e Safira que, levados pelo ímpeto do momento, decidiram doar para a igreja apostólica todos os recursos adquiridos com a venda de um terreno, mas que, ao terem o dinheiro em mãos, arrependeram-se da decisão precipitada que haviam tomado (Atos 5:1-11). 
é o exemplo de alguém indeciso. Sendo avisado pelos anjos que Sodoma seria destruída, demorava-se em tomar a decisão de partir (Gên. 19:1, 12-16). 
Pilatos, por sua vez, é apresentado como inconstante, pois, havendo analisado as acusações feitas contra Jesus, chegou à conclusão e declarou que Ele era inocente e, embora tivesse decidido soltá-Lo, deixou-se dominar pelos acontecimentos e O entregou para ser morto (Atos 3:13; Luc. 23: 13-25).


É através da vontade que o pecado conserva seu domínio sobre os homens.21 A vontade que não foi rendida ao domínio de Cristo é governada por Satanás22 e embora o homem não possa por si mesmo controlar seus impulsos e emoções como gostaria23 tem a capacidade de tirá-la do domínio de Satanás e entregá-la a Cristo.24 Quando isto é feito, “a graça de Cristo Se apresenta para cooperar com o agente humano”25 transformando a mente e o coração, pela atuação do Espírito de Deus.26 Ao entregarmos a Deus nossa vontade ela nos é devolvida “purificada e refinada” e tão em harmonia com Ele que nos tornamos condutos de Seu “amor e poder”.27 


DOMÍNIO PRÓPRIO E OS HERÓIS DA BÍBLIA


As narrativas bíblicas contêm exemplos de pessoas que exerceram grande domínio próprio – mesmo com risco de grave perigo ou da perda da própria vida – e também de indivíduos que falharam em exercer o auto-controle.


José possuía controle pessoal. Em certo período de sua vida, ele foi tentado todos os dias pela senhora Potifar. Segundo todas as aparências, haveria vantagens em ceder e sérios riscos em dizer “não”. Além disso, ele nem tinha uma família por perto nem uma igreja para apoiá-lo. Estava sozinho. Contudo, ele possuía uma clara compreensão de quem era Deus e do que era pecado. Ele decidiu recusar e recusou. Disse e fez. Disse “não” e fugiu. Ele não entregou o controle de sua vida a outra pessoa. E se deu mal. Sim, o resultado imediato não foi bom. Foi caluniado e lançado na prisão. Todavia, Deus usou essas mesmas coisas para o seu bem e, alguns anos depois, ele saiu do cárcere para ocupar o posto de governador o Egito, a maior potência daqueles dias. Com isso, aprendemos também a avaliar os resultados de nossas escolhas a longo prazo (Gn 39:7 a 41:44).


Sansão foi um homem forte em força física e fraco em força de vontade. Tinha tudo para dar certo. Foi escolhido por Deus para um trabalho especial mesmo antes de nascer. Seus pais eram tementes a Deus e fizeram o que de melhor poderia ser feito para educá-lo nos caminhos de Deus e prepará-lo para sua missão. Foi abençoado por Deus e frequentemente o Espírito do Senhor Se apoderava dele e lhe concedia extraordinária força física. Mas ele não possuía domínio próprio, especialmente no que se referia ao sexo. Contrariamente à vontade de Deus, casou-se com uma filistéia; depois esteve com uma prostituta; e, mais tarde, juntou-se a outra filistéia: Dalila. No relacionamento com esta, parecia estar enfeitiçado. Não conseguia perceber que as palavras e ações dela claramente atentavam contra a vida dele. Dizem que quem não se governa acaba sendo governado por outros. Assim foi com Sansão. Nas semanas finais de sua existência, foi dominado por seus inimigos, os filisteus. Felizmente, em seu último dia de vida, ele teve um lampejo de lucidez. Percebeu seu erro e decidiu cumprir sua missão, mesmo que perdesse sua vida.  Decidiu retirar o controle de sua vida das mãos dos filisteus e assumi-lo. Pediu a Deus que o usasse mais uma vez, só mais uma vez. E Deus o ouviu. (Jz 13-16). É por isso que seu nome pode constar na galeria dos heróis da fé, em Hb 11.


Daniel é um brilhante exemplo de temperança e domínio próprio. Observe o relato bíblico: “Resolveu, Daniel, firmemente, não contaminar-se com as finas iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; então, pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não contaminar-se.” (Dn 1:8). Daniel não era um jovem de vontade doentia. Não era impulsivo, nem indeciso, nem inconstante. Possuía grande força de vontade. Sabia dizer “não” ao mal, coisa que alguns têm dificuldade em fazer. Durante sua vida ele teve de dizer “não” muitas vezes, inclusive para os homens mais poderosos do mundo. Ele disse “não” ao chefe dos eunucos e ao cozinheiro-chefe quando estes lhe disseram para comer da comida real (Dn 1:8-16). Ele disse “não” ao chefe da guarda, quando este foi encarregado pelo rei de matar os conselheiros, por não conseguirem revelar o sonho e sua interpretação (Dn 2:12-16). Quando Nabucodonozor imaginou que o reino da Babilônia seria eterno, Daniel lhe disse “não”; outros reinos lhe sucederiam e o reino de Deus é que seria eterno (Dn 2:37-44). Quando Belsazar ofereceu a Daniel posições e riquezas para que este interpretasse a escrita na parede, Daniel disse “não”. A interpretação seria gratuita (Dn 5:16-17). Quando Dario promulgou um decreto que proibia se fizesse petição a qualquer homem ou deus, que não fosse o rei, Daniel disse “não”, e foi orar ao Deus Eterno como sempre o fizera (Dn 6:6-10). Qual era o segredo de Daniel? Ele recebera de Deus o dom do domínio próprio e se apoderara dele. De fato, quando um homem aprende a dominar-se, faz-se capaz de dominar o mundo exterior. Antes disso, nunca. Quando uma pessoa aprende a dizer “não” a si mesma, saberá e terá força moral para dizer “não” a outros, quando necessário.


DESENVOLVENDO O DOMÍNIO PRÓPRIO


Ao buscarmos cultivar o domínio próprio, bem como outras qualidades, será muito proveitoso efetuar, ao final de cada dia, uma breve revisão de nossos comportamentos, atitudes e palavras durante o dia que findou. Desse modo nos é possível descobrir os motivos que nos levaram a agir de uma ou de outra maneira e a perceber, com mais clareza, onde falhamos e onde acertamos. Isto resultará em conhecermos melhor a nós mesmos e em podermos planejar e executar um melhor relacionamento com Deus e com os homens. Se, por exemplo, falhamos em nos dominar em determinada situação, devemos pensar em qual deveria o comportamento correto e, então, depois de confessar nosso pecado a Deus e pedir Seu perdão e nos perdoar a nós mesmos, podemos planejar agir de modo correto na próxima vez em que passarmos por algo semelhante.28


Ao encerrar seu arrazoado sobre o fruto do Espírito, o apóstolo declara: “Contra estas coisas não há lei” (Gl 5:23). A lei de Deus não condena nenhuma destas coisas, antes, são elas que capacitam o homem a viver em acordo com esta mesma lei. O mesmo pode ser dito em relação às leis humanas. A sociedade não necessita de nenhuma proteção contra os que ostentam estas qualidades: o amor, a paz, a bondade, a mansidão, o domínio próprio; mas frequentemente necessita ser protegida contra aqueles que manifestam as obras da carne: prostituição, lascívia, inimizades, ciúmes, iras, invejas, bebedices, e coisas semelhantes.29


Devemos, portanto, entregar a Deus o domínio de nossa vontade e pedir que Ele nos conceda este poder, o poder sobre nós mesmos, o poder de dizer “não” ao pecado e ao mal. Deixemos o Espírito de Deus operar em nossa vida e apreciemos e cultivemos a virtude do domínio próprio.


Autor:  Emilson dos Reis


Referências bibliográficas
  1. H. Baltensweiler, “Domínio próprio, Sensatez, Prudência”, Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, 4 Vols., editado por Colin Brown, traduzido por Gordon Chown (São Paulo: Vida Nova, 1985), 1:682-683; D. H. Tougue, “Domínio próprio, Temperança”, O novo dicionário da Bíblia, 3 vols., editado por J. D. Douglas (São Paulo: Vida Nova, 1966), 1:443.
  2. John William MacGorman, “Gálatas”, Comentário bíblico Broadman, 12 vols., editado por Clifton J. Allen e traduzido por Adiel Almeida de Oliveira (Rio de Janeiro: JUERP, 1985), 11:150.
  3. Ver Baltensweiler, 1:683.
  4. Russell Norman Champlin e João Marques Bentes, eds., “Autocontrole”, Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia, 6 vols., 3ª ed. (São Paulo: Candeia, 1995), 1:396.
  5. Ver Baltensweiler, 1:683; Tougue, 1:443.
  6. Baltensweiler, 1:684.
  7. Gary L. Thomas, As virtudes cristãs (Rio de Janeiro: Textus, 2003), 15.
  8. John R. W. Stott, As epístolas de João: Introdução e comentário (S. Paulo: Edições Vida Nova e Editora Mundo Cristão, 1985), 110.
  9. Edward A. Mc Dowell, Comentário bíblico Broadman, 12 vols., editado por Clifton J. Allen e traduzido por Adiel Almeida de Oliveira (Rio de Janeiro: JUERP, 1985), 247.
  10. Emilson dos Reis, “As marcas de um cristão”, Revista Adventista, Fevereiro de 2000, 12.
  11. Ver argumento completo em Emilson dos Reis, Como preparar e apresentar sermões, 2ª ed. (Tatuí:Casa Publicadora Brasileira, 2004), 80-88.
  12. Ellen G. White, Mente, Caráter e Personalidade, 2 Vols., 3ª ed. (Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1996), 2:685.
  13. Ibid.
  14. Ibid., 1:100 e 2:406.
  15. Alberto Montalvão, Psicologia, Biblioteca de Ciências Exatas e Humanas, Vol. 2 (São Paulo: Novo Brasil Editora Ltda., 1982), 201.
  16. White, 2:685. 
  17. Montalvão, 202.  
  18. Ibid., 193.
  19. Ibid., 202. 
  20. Ibid.
  21. White, 2:683.
  22. Ibid., 2:692.
  23. Ibid., 2:694.
  24. Ibid., 2:686.
  25. Ibid., 2:691.
  26. Ibid., 2:692.
  27. Ibid., 2:693.
  28. Ver idem, Obreiros Evangélicos, 4ª ed. (Santo André, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1969), 275.
  29. MacGorman, 150.



sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O fruto do Espírito Santo é mansidão






“Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a Terra” (Mateus 5:5).



Leituras para esta semana: Gn 50:20Mt 5:511:29Rm 12:3Gl 6:1Fp 2:2, 31Pe 3:4


A mansidão é o fruto do Espírito que parece perdido em nossa cultura agressiva, egocêntrica. As pessoas a associam à debilidade, e a maioria não admira os outros por serem submissos. Mas é isso que somos chamados a ser.


Que é mansidão? É uma atitude de humildade para com Deus e gentileza para com as pessoas – quando reconhecemos que Deus está no controle e que podemos confiar nEle, mesmo quando as coisas não vão como gostaríamos, como é frequentemente o caso. A fim de sermos submissos, precisamos de confiança, não em nós mesmos, mas no Senhor.


Embora fraqueza e mansidão possam parecer semelhantes, não são a mesma coisa. A fraqueza se deve a circunstâncias negativas, como falta de força ou falta de coragem, palavras que não descrevem Jesus, que disse: “Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11:29)Mansidão, ao contrário, é resultado da decisão consciente da pessoa para confiar em Deus e se apoiar nEle, em lugar de pressionar para que as coisas aconteçam a seu modo. Assim, a mansidão se origina da força, não da fraqueza.




“Manso e humilde de coração”

1. “Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma” (Mt 11:29). O que Jesus está nos dizendo nesse verso? Como a mansidão e humildade de coração nos trazem descanso?


Mansidão é a renúncia absoluta à batalha pelas nossas opiniões e a crença de que Deus lutará em nosso favor pelo Seu programa. A mansidão é o oposto da agressividade e do egoísmo. Tem origem na confiança na bondade e controle de Deus sobre a situação. A pessoa mansa não está preocupada com o eu (veja Lc 22:42) e esta é uma atitude chave para a promessa de encontrar descanso. Afinal, não são nosso tumulto e nossa agitação o resultado de buscarmos apenas os nossos interesses e nossa vontade? No mais verdadeiro sentido, então, uma pessoa mansa é alguém que aprendeu a morrer para o eu, e isso requer fé, coragem e perseverança, características que o mundo não necessariamente associaria à mansidão.
2. Como Paulo descreve a mansidão? 


Rm 12:3 -  Porque, pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um.


(Efésios 4:2 com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor).  Este é outro texto que nos ajuda a entender o que é mansidão. Note como está relacionado com Romanos 12:3, visto que ambos os textos enfatizam à sua própria maneira por que a arrogância e o egoísmo são o oposto da experiência do cristão. Afinal, por que algum cristão seria arrogante? Não somos todos pecadores? Não seríamos todos condenados à destruição eterna, se não fosse por Jesus? Não somos todos totalmente dependentes de Deus para cada respiração, cada batida do coração? Todo dom e talento não nos veio de Deus? Então, o que temos, que nos torna orgulhosos? Nada! Realmente, considerando todo o custo de nossa salvação, os cristãos devem ser o povo mais manso e mais humilde na Terra.


Pense como você é totalmente dependente de Deus para tudo. Então, de onde vem aquele orgulho e arrogância em seu coração, e como você pode se livrar dele?





Extraído de: http://www.cpb.com.br/htdocs/periodicos/licoes/adultos/2010/frlic912010.html



quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Modelos de mansidão




Lembra-se da crise que Abraão enfrentou ao decidir com seu sobrinho, Ló, como repartir a terra? (Veja Gn 13:8, 9 - Disse Abrão a Ló: Não haja contenda entre mim e ti e entre os meus pastores e os teus pastores, porque somos parentes chegados. Acaso, não está diante de ti toda a terra? Peço-te que te apartes de mim; se fores para a esquerda, irei para a direita; se fores para a direita, irei para a esquerda).


Visto que Deus havia prometido fazer de seus descendentes uma grande nação, qual poderia ter sido a justificativa de Abraão para tomar o melhor para si mesmo? Em vez disso, Abraão permitiu que Ló escolhesse primeiro, dizendo que ele tomaria o que restasse. Essa é uma característica da mansidão!


A maioria conhece a história de José vendido como escravo ao Egito por seus irmãos. Leia novamente a história de quando eles o procuraram, agora como segundo no governo de todo o Egito, e pedindo para comprar comida (Gn 45). Como a mansidão de José determinou sua maneira de tratar os irmãos? Provavelmente, se ele não fosse manso, o que teria feito? (Gênesis 50:20 -  Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida) José é um exemplo da visão daqueles que são mansos.


Ainda jovem, Davi foi ungido para ser o próximo rei de Israel. O rei Saul ficou loucamente ciumento e, por anos, procurou Davi e seus homens com a intenção de matá-lo. Em duas ocasiões, Davi teve a oportunidade de matar Saul (1Sm 24:3-7  -   Levantou-se Davi e, furtivamente, cortou a orla do manto de Saul. Sucedeu, porém, que, depois, sentiu Davi bater-lhe o coração, por ter cortado a orla do manto de Saul; e disse aos seus homens: O SENHOR me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, isto é, que eu estenda a mão contra ele, pois é o ungido do SENHOR. ISm. 26:7-12  - O SENHOR me guarde de que eu estenda a mão contra o seu ungido )


Se Davi não fosse manso, qual poderia ter sido seu raciocínio para matar Saul? Por que é tão fácil usar uma desculpa espiritual para fazer algo que está em nosso interesse?


Em Números 12:3  -   (Era o varão Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra).  Moisés é descrito como o homem mais manso de seu tempo. Mas suas ações decisivas não parecem se ajustar ao conceito popular de mansidão. Sua exigência para que o faraó deixasse Israel ir era forte e foi seguida de ação. Quando Israel adorou o bezerro de ouro, sua ira se acendeu e, antes que tudo terminasse, ele tomou o bezerro que eles haviam feito, queimou-o a fogo, reduziu-o a pó, espalhou-o sobre a água e a deu para que os filhos de Israel bebessem (Êx 32:19, 20  -  Logo que se aproximou do arraial, viu ele o bezerro e as danças; então, acendendo-se-lhe a ira, arrojou das mãos as tábuas e quebrou-as ao pé do monte; e, pegando no bezerro que tinham feito, queimou-o, e o reduziu a pó, que espalhou sobre a água, e deu de beber aos filhos de Israel). Como devemos entender a mansidão de Moisés?


Evidentemente, Jesus é o maior modelo de mansidão (Mt 11:29  - Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma). Quais são alguns dos exemplos de Sua mansidão? 


Por exemplo, como Sua mansidão se revelou em João 18:21-23? (Por que me interrogas? Pergunta aos que ouviram o que lhes falei; bem sabem eles o que eu disse. Dizendo ele isto, um dos guardas que ali estavam deu uma bofetada em Jesus, dizendo: É assim que falas ao sumo sacerdote? Replicou-lhe Jesus: Se falei mal, dá testemunho do mal; mas, se falei bem, por que me feres?)


Ou que dizer de Mateus 26:39? (Adiantando-se um pouco, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres.)


Ao mesmo tempo, encontramos exemplos de Jesus fazendo coisas que não parecem ser mansas, como quando Ele expulsou os cambistas do templo ou todas as ocasiões em que Ele confrontou os fariseus e outros a respeito de sua hipocrisia. Como esses exemplos nos ajudam a entender que a mansidão pode se manifestar de maneira muito corajosa?


O que existe de comum entre esses exemplos de mansidão? O que você pode aprender deles para entender o que é mansidão e o que não é?




Extraído de: http://www.cpb.com.br/htdocs/periodicos/licoes/adultos/2010/frlic912010.html



quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A importância da mansidão





“Buscai a justiça, buscai a mansidão; porventura, lograreis esconder-vos no dia da ira do Senhor” (Sf 2:3)Mansidão é o oposto do orgulho. Existe muita ênfase hoje na importância de ter autoestima. Quando a autoestima ultrapassa os limites e se torna orgulho?


A mansidão é necessária para receber a Palavra de Deus. “Acolhei, com mansidão, a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar...” (Tg 1:21). Quem não tem espírito humilde não pode receber a Palavra de Deus, porque existe um conflito de interesses. Por quê?


A mansidão é necessária para o testemunho eficaz. “Santifiquem Cristo como Senhor em seu coração. Estejam sempre preparados para responder a qualquer pessoa que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês. Contudo, façam isso com mansidão e respeito” (1Pe 3:15, 16, NVI).


“Nossa influência sobre outros não depende tanto do que dizemos, mas do que somos. Os homens podem combater ou desafiar nossa lógica, podem resistir a nossos apelos; mas a vida de amor desinteressado é um argumento que não pode ser contradito. A vida coerente, caracterizada pela mansidão de Cristo, é uma força no mundo” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 142).
Mansidão dá glória a Deus. 1 Pedro 3:4 diz: “Seja... o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranquilo, que é de grande valor diante de Deus.”


“É justo amar o belo e desejá-lo; mas Deus deseja que primeiro amemos e busquemos a beleza do alto, que é imperecível. Nenhum adorno externo se compara em valor ou amabilidade com ‘um espírito manso e quieto’, o ‘linho fino, branco e puro’ (Ap 19:14), que todos os santos da Terra usarão. Essa veste os fará belos e amados aqui, e será depois sua senha para admissão ao palácio do Rei. Sua promessa é: ‘Comigo andarão de branco; porquanto são dignos disso’” (Ap 3:4; Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 523, 524).


Como a ênfase na beleza exterior pode ser um conflito potencial com o desenvolvimento do fruto do Espírito, particularmente com o fruto da mansidão? Ao crescer o fruto da mansidão em você, como sua vida deve ser diferente do que era antes? Na área da mansidão, que mudanças você viu em sua vida desde que aceitou a Cristo? Que atitudes você está abrigando, tornando difícil a mansidão?




Extraído de: http://www.cpb.com.br/htdocs/periodicos/licoes/adultos/2010/frlic912010.html 



terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Praticando o fruto da mansidão




A mansidão será manifestada em nosso relacionamento com os outros. Isto é, trata-se de algo ativo, algo que se revelará em nossas palavras, atitudes e ações. Você pode pensar que é manso, mas isso não significa necessariamente que você seja. Ser manso é manifestar isso.

3. Como a mansidão deve ser revelada em nossa vida? Por que a mansidão é tão importante nessas situações?  


Mt 5:39  -  Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra; 


Mt 18:21, 22    - Então, Pedro, aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete. 


Gl 6:1    -   Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado.


Tm 2:24, 25   -  Ora, é necessário que o servo do Senhor não viva a contender, e sim deve ser brando para com todos, apto para instruir, paciente, disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade,


Tt 3:2    -  não difamem a ninguém; nem sejam altercadores, mas cordatos, dando provas de toda cortesia, para com todos os homens. 


Fp 2:2, 3  -  completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento. Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo.

Como temos dito desde o princípio, a mansidão está associada injustamente com a fraqueza. É tudo a não ser isso. Volte a examinar os versos de hoje. Você pode ver que é necessário força moral e espiritual para revelar mansidão na maioria dessas situações.


Extraído de: http://www.cpb.com.br/htdocs/periodicos/licoes/adultos/2010/frlic912010.html

A recompensa da mansidão





“A humildade é uma coisa estranha. No minuto em que você acha que conseguiu, você a perde.” (ED. Hulse)


Uma pequena cidade queria reconhecer e recompensar seu cidadão mais manso. Foi feita uma pesquisa em sua comunidade, que, por fim, identificou a pessoa. Em uma cerimônia assistida por todas as pessoas importantes, o cidadão mais manso foi presenteado com uma fita em que estavam inscritas as palavras: “O Homem Mais Manso da Cidade”. Porém, no dia seguinte, eles tiveram que tirar dele a fita, pois ele a estava usando!


4. Como você entende as promessas e recompensas mencionadas nos textos seguintes?  


Os sofredores hão de comer e fartar-se; louvarão o SENHOR os que o buscam. Viva para sempre o vosso coração. (Sal. 22:26)

Guia os humildes na justiça e ensina aos mansos o seu caminho. (Sal. 25:9)

Mas os mansos herdarão a terra e se deleitarão na abundância de paz. (Sal. 37:11)

O SENHOR ampara os humildes e dá com os ímpios em terra. (Sal. 147:6)

Os mansos terão regozijo sobre regozijo no SENHOR, e os pobres entre os homens se alegrarão no Santo de Israel. (Isa. 29:19)

Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve. (Mat. 11:30)



Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. (Mt 5:5)             


Estes versos são confortantes porque existem ocasiões em que as pessoas podem tirar proveito dos mansos. Mas aprendemos neste estudo que uma pessoa mansa não está preocupada em se exaltar diante dos homens, mas em exaltar Deus. Como resultado, Deus promete exaltar aquele que é manso. As recompensas podem vir agora e, mais seguramente, no novo Céu e na nova Terra da eternidade.



Estudo adicional

“Cristo não deve ser escondido no coração e encerrado como um tesouro oculto, sagrado e delicioso, para ser desfrutado apenas pelo possuidor. Devemos ter Cristo no coração como uma fonte de água que salte para a vida eterna, refrigerando todos os que entram em contato conosco. Devemos confessar Cristo aberta e destemidamente, exibindo em nosso caráter Sua mansidão, humildade e amor, até que as pessoas sejam fascinadas pela beleza da santidade. A melhor maneira de preservarmos nossa religião não é como fazemos com os perfumes, engarrafando-os para que a fragrância se não exale” (Ellen G. White, Conselhos Sobre Saúde, p. 400).


“A paz de Cristo – não a pode comprar o dinheiro, o talento brilhante não a pode obter, não pode consegui-la o intelecto; é dom de Deus. A religião de Cristo! Como poderei fazer com que todos entendam sua grande perda caso deixem de pôr em prática seus princípios na vida diária? A mansidão e humildade de Cristo é a força do cristão. Na verdade, é mais preciosa do que todas as coisas que o gênio possa criar ou a riqueza comprar. Dentre todas as coisas ambicionadas, acariciadas e cultivadas, nenhuma há de tanto valor aos olhos de Deus como o coração puro, a disposição impregnada de gratidão e paz” (Ellen G. White, Conselhos Sobre Saúde, p. 403, ênfase provida).


Perguntas para consideração


1. Deus promete aumentar a alegria na vida dos que são mansos. Por que os mansos podem ser alegres? Dê vários motivos. Como o cultivo do fruto do Espírito que é a mansidão, pode melhorar todos os dias de sua vida?
2. Por que a mansidão pode ser interpretada erroneamente como fraqueza?
3. Toda essa conversa sobre a mansidão suscita uma pergunta importante: Os cristãos nunca devem se erguer para defender seus direitos? Vamos permitir ser feitos como capachos, pisados constantemente sem fazer nada em nossa defesa? Existe um equilíbrio neste assunto e, neste caso, como podemos encontrá-lo?


Extraído de: http://www.cpb.com.br/htdocs/periodicos/licoes/adultos/2010/frlic912010.html