terça-feira, 21 de junho de 2011

Revestidos de Cristo (comentário ao estudo nº 13)






Introdução
Reportagem da revista Veja da semana passada (15/06/11) mostra o esforço da medicina para esticar a vida humana, imprimindo-lhe o máximo de qualidade. Prevê-se que, dentro de algum tempo, já não mais teremos que conviver com os incômodos e limitações da velhice. “A promessa agora”, diz a reportagem, “não é a de imortalidade com decadência, mas a da saúde, do vigor físico, mental e emocional esticados para as quadras da vida que, em gerações passadas eram sinônimo de decrepitude e doença.”

Os pesquisadores se mostram animados com as conquistas da medicina. Lembrando que, em 1900, a expectativa de vida nos Estados Unidos era de 47 anos e, hoje, é de 78 (no Brasil é de 73), o repórter conjectura que “não seria espantoso que, no decorrer do século 21, a sobrevivência humana com saúde fosse acrescida de mais sessenta anos, o que levaria a idade média para bem mais de 100”.

Aparentemente, nunca foi fácil aceitar a degeneração humana e o combate a ela não é coisa nova. Aliás, muitos não creem que tal coisa exista e, num caminho inverso, apregoam a evolução da raça. Mas, o pecado não nega as terríveis marcas espirituais, emocionais e físicas que gravou no ser humano. Felizmente, elas têm prazo de validade. Num processo que pode ter início agora, com a restauração espiritual, essas marcas degenerativas serão completa e eternamente apagadas por ocasião da vinda de Jesus. Isso é o que nos garantem as promessas de restauração, analisadas nesta semana sob o simbolismo de vestes especiais.

Herdeiros conforme a promessa

No que tange à nossa restauração ao plano divino original de perfeição e santidade, do qual, como seres humanos, nos afastamos, devemos admitir a realidade de que nada podemos fazer de nós mesmos. Como meios de salvação, nossos melhores atos de obediência e mais expressivos feitos religiosos são insuficientes para nos tornar justos diante de Deus (Is 64:6; Jr 13:23). Dependemos inteira, completa e absolutamente de Cristo Jesus. Foi essa realidade que Paulo teve que esclarecer insistentemente à comunidade cristã da Galácia, que enveredava pela contramão do evangelho.

Escreveu o apóstolo: “
Todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes” (Gl 3:26, 27).

Primeiramente, está claro que nossa aceitação como “filhos de Deus” se dá “mediante a fé em Cristo Jesus”, não por nossos méritos. Ao lado disso, somos “revestidos” com a justiça de Jesus, o que significa dizer que nossas vezes pecaminosamente manchadas foram tiradas, nosso pecado foi perdoado e, a partir dessa experiência, adotamos os princípios que nortearam a vida de Cristo, submetemo-nos à Sua vontade, imitamos Seu exemplo e podemos reclamar a perfeição de Sua vida como sendo nossa. As promessas da aliança feita com Abraão (Gn 12:2, 3) não são herdadas por critérios étnicos, mas por meio da fé exercida em Cristo.

Escrevendo aos romanos (6:1-6), Paulo ampliou o conceito do revestimento de Cristo. Nas palavras dos autores da Lição, “
estar revestido de Cristo é mais que uma reputação legal diante de Deus. Os cristãos são unidos com Cristo; são entregues a Ele; e, através dEle, estão sendo renovados, rejuvenescidos e restaurados” (nota de domingo).

É importante lembrar a menção do batismo nesse processo. Ele simboliza não apenas a morte e o sepultamento do crente, mas também sua ressurreição. O batismo aponta simbolicamente em duas direções: o que ficou para trás e o que está adiante. O que ficou para trás, a deliberada vida pecaminosa, foi sepultado. O que está à frente é a vida nova em Cristo. A morte para o pecado projeta uma vida espiritualmente elevada. A justificação antecipa a santificação do cristão.

Nenhuma provisão para a carne

No capítulo 13 da carta aos romanos, Paulo apresenta resultados práticos da nova vida cristã derivada de nossa aceitação de Jesus como Salvador e Senhor. Inicialmente, ele realça o comportamento do cristão, como cidadão e parte da sociedade em que vive. Nem isolamento, nem hostilidade. Revestido de Cristo, o cristão deve ser o exemplo de conduta, agindo como Cristo agiria estando em seu lugar. Paulo exortou os romanos declarando que isso deveria acontecer especialmente por causa da solenidade do tempo em que imaginavam estar vivendo, ou seja, a suposta proximidade do fim (Rm 13:11-14). Esse fato nos diz muita coisa!

Nesse contexto, como deviam viver os cristãos “revestidos de Cristo”?
– Despertos do sono espiritual (v. 11).
– Vigilantes (v. 11, 12).
– Libertos das obras das trevas (v. 12). A palavra grega traduzida para “deixar” é apolítemi, utilizada várias vezes no Novo Testamento para descrever o abandono de maus hábitos (Ef 4:22, 25, Cl 3:8, Hb 12:1, Tg 1:21; 1Pe 2:1). Note-se que a transição das “obras das trevas” para as “armas da luz” inclui o conceito de “revestimento”. As “vestes” das trevas devem ser substituídas pela vestimenta da armadura da luz.

4. Comportamento digno, que inclui viver honestamente às claras, abandono das orgias, luxúria e lascívia (que envolvem imoralidade sexual), inveja e contenda (v. 13).

5. Revestidos de Cristo, sem chance para a carnalidade (v. 14). A experiência do nosso revestimento com a justiça de Cristo deve ser renovada a cada dia, no processo da santificação. Perseverando nesse caminho, cresceremos na imitação do modelo supremo, Cristo Jesus. Embora Deus nos tenha agraciado com desejos legítimos que precisam ser satisfeitos, eles não devem nos dominar. Uma vida de complacência própria tende a estimular apetites físicos impuros. Estando revestidos de Cristo, teremos o poder para mantê-los subjugados.

Despir e vestir

Colossenses 3:1-10. Novamente nos deparamos com os conceitos paulinos de “morte” para a velha vida e “ressurreição” para uma vida nova, presentes na exposição que ele fez sobre o batismo, em Romanos 6. Com isso, o apóstolo se referiu à transformação produzida nos crentes, devido à identificação deles com Cristo, em Sua morte e ressurreição, eventos dos quais o batismo é símbolo.

“Em termos inequívocos”, assinalam os autores da Lição, “nos é mostrada a ideia de renovação, regeneração, de algo feito melhor do que era antes”. Sendo que, quando Ele “Se manifestar” em glória, também seremos “manifestados com Ele”, devemos viver aqui em sintonia com o Céu, revelando os frutos descritos nos versos 8-10, despidos do velho homem e revestidos do novo homem, em Cristo Jesus.

Essa mesma ideia foi apresentada aos cristãos de Éfeso (Ef 4:22-24). A morte do velho homem e ressureição do novo; o ato de nos despirmos do velho homem e nos revestirmos de Cristo ou do novo homem, tudo isso envolve transformação, mudança do ser. “
Como cristãos batizados, somos novas pessoas no Senhor. Estar revestido de Cristo não é uma metáfora para justificação apenas, para a justiça de Cristo cobrindo nossos pecados e nos dando uma nova posição diante de Deus. Estar revestido de Cristo significa igualmente ser uma nova pessoa, ou seja, sercriado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade’ (v. 24).”

Num piscar de olhos

Nosso crescimento espiritual, porém, não nos isenta das consequências físicas do pecado, entre as quais a mais dolorosa é a morte. Ela nos espreita; a sepultura nos aguarda, independentemente de quão longa seja nossa existência. O fim será a morte. E, ao longo da existência terrestre, não é sem lutas, escorregões e quedas, transposição de vales e montanhas, revezes e conquistas que buscamos perseverar na manutenção do nosso status de “revestidos de Cristo”. Graças a Deus, existe uma esperança, perfeita e firme, de transformação plena e final da nossa vida em todos os aspectos espiritual, emocional e físico. Nessa transformação está envolvida a vitória sobre a morte com sua decorrente troca das vestes da corrupção física pelas vestes da incorruptibilidade.

Segundo a reportagem de Veja, o atual esforço da medicina é apenas para ampliar a expectativa de vida humana. “Vivemos num tempo em que é ótimo ser mortal”, afirmou Jonathan Weiner, citado na reportagem e autor do livro The Strange Science of Immortality [A Estranha Ciência da Imortalidade]. Como Deus não faz as coisas pela metade, a promessa de Sua Palavra é completa e garante o retorno do ser humano à imortalidade para a qual foi planejado.

Paulo enfatiza essa esperança em 1 Coríntios 15:49-55. Especificamente, os versos 53 e 54 falam da substituição das vestes mortais e corruptíveis, que agora ostentamos, pelas vestes imortais e incorruptíveis. É essencial que ocorra essa mudança no corpo dos santos; e isso acontecerá por ocasião da ressurreição ou, no caso dos que forem encontrados vivos na vinda de Jesus Cristo, quando forem transformados “
num momento, num abrir e fechar de olhos, quando ressoar a última trombeta” (v. 52). Então o corpo não mais incitará o “eu” débil ao pecado. Como somos agora, “carne e sangue”, não podemos “herdar o reino de Deus”, assim como a corrupção não pode herdar a incorrupção (1Co 15:50). Ainda não temos substância celestial; ainda não refletimos a imagem plena de Jesus Cristo.

Esse corpo imperecível, revestido de incorruptibilidade, não é algo como um espírito desencarnado, nem fantasma. Trata-se de um corpo real, tangível, organismo perfeito e apto para ser morada do Espírito Santo. Paulo o comparou ao corpo de Cristo ressuscitado (Fp 3:21). À semelhança de Cristo ressuscitado, conservaremos os aspectos de nossa personalidade. Apesar das diferenças entre o corpo revestido de corrupção e o incorruptível, haverá certa continuidade entre elas, conforme descrição de Ellen G. White:

Nossa identidade pessoal é preservada na ressurreição, ainda que não as mesmas partículas de matéria ou substância que foram à tumba. As maravilhosas obras de Deus são um mistério para o homem. O espírito, o caráter do homem, volve a Deus para ser preservado. Na ressurreição, cada homem terá seu próprio caráter. A seu devido tempo, Deus chamará os mortos, devolvendo-lhes o sopro da vida, fazendo com que os ossos secos tornem a viver. Eles se levantarão com a mesma forma que tinham, porém livres de doenças e defeitos. E viverão conservando suas mesmas características individuais, de maneira que os amigos poderão reconhecer-se” (MS 76, 1900).

Nossa habitação celestial

2 Coríntios 5:1-4. Nesses versos, Paulo explica a razão da esperança mantida em meio às provas e aflições que provocam gemidos ao longo da vida. Tal esperança, apresentada no capítulo anterior, tem seu fundamento na certeza da ressurreição dos justos, na segunda vinda de Cristo. Naquela ocasião, nosso corpo, aqui simbolicamente identificado como “casa terrestre”, será transformado em “um edifício, casa não feita por mãos, eterna” (v. 1), ou revestido “da nossa habitação celestial” (v. 2).

Como informa a nota da Lição de quinta-feira, “em alguns antigos escritos, a ideia de estar revestido era vista como similar a estar dentro de uma casa. As duas coisas são externas a nós e apresentam certa porção de proteção e cobertura (no tempo de Paulo, o nome da roupa usada pela classe pobre era derivado de uma palavra que significava ‘pequena casa’).”

Porém, é apropriada a comparação do corpo humano com uma casa ou tenda (essa é a expressão original). O material do qual as duas coisas são feitas é proveniente da terra, o que as torna perecíveis, transitórias e vulneráveis a intempéries. Mas a casa “não feita por mãos” (o corpo transformado) é “eterna”. Esse corpo será imperecível, glorioso e forte. Estará livre de tendências e impulsos egoístas; revestido de glória imortal e santidade perene.

Final glorioso

O plano divino estabelecido para a salvação do homem prevê a restauração de todas as coisas ao seu estado original. O paraíso perdido por Adão será restaurado por Jesus à Sua original perfeição espiritual e física. Em breve, esse plano alcançará seu propósito final para os filhos de Deus de todos os tempos. Para sempre, viveremos com Ele e Ele estabelecerá Seu trono neste planeta.

Não podemos criar o paraíso por meio de pesquisas científicas, programas políticos nem mediante nossas boas obras. O homem não pode acabar com a morte, eliminar o pecado nem suprimir Satanás. Porém, todas essas esperanças serão materializadas quando o que está assentado no trono do Universo proclamar: “
Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21:5).

A santa cidade, prometida a Abraão, descerá do Céu como Nova Jerusalém, a morada de Deus e dos remidos. Então, terá passado o inverso cristão com seus gelados ventos de aflições e provas.

A garantia do nosso Deus é a seguinte: “
O que vencer herdará todas estas coisas, e Eu serei seu Deus, e ele será Meu filho” (Ap 21:7). Diante disso, à semelhança do apóstolo João, podemos orar: “Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22:20).

Obras consultadas:
– Comentário Bíblico Adventista del Séptimo Dia, v. 6.
– Russell Norman Champlin, O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, v. 5.
– Desmond Ford, Right With God Right Now.
– John C. Brunt, The Abundant Bible Amplifier – Romans.

Zinaldo A. Santos - Editor de Ministério





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